quinta-feira, 10 de abril de 2008

Rápidas observações sobre a alimentação e a identidade "étnica"

Por algumas vezes o tema foi mencionado aqui, mas nunca discutido propriamente. Longe de Santa Catarina, ressalto (algumas vezes conscientemente, outras não) alguns traços da minha personalidade ou alguns costumes para parecer mais catarinense, para reforçar minha identidade, quando em oposição aos paulistas. A linguagem, a postura diante de um ou outro fato da vida cotidiana, ou mesmo o modo de vestir são evidenciados neste processo. Mas é através da alimentação que realmente percebo que a minha identidade de catarinense do Vale se coloca antes da minha identidade de brasileiro.

Já preparamos cuca de banana e oferecemos para muitas pessoas. Trata-se de uma maneira de adequar a rotina diária daqui com os hábitos alimentares que possuíamos previamente. Mas, além disso, ao oferecermos a cuca para outras pessoas, tentamos convencê-los de que o hábito alimentar da cuca é bom, é legítimo. Com a cuca tentamos, ao mesmo tempo, demarcar nossa identidade e "colonizar" a culinária paulista. Se por um lado buscamos referências familiares, de nossa socialização prévia, por outro negamos a culinária local ou hierarquizamos os hábitos alimentares de duas regiões do Brasil, colocando os nossos próprios hábitos em uma posição privilegiada.

Alguns exemplos sobre as diferenças alimentares: um dia, o Rafael tentou comprar nata para cozinhar (outra cuca!). Não obteve sucesso. A nata industrializada, empacotada e consumida das mais diversas formas no Vale do Itajaí por aqui nem existe. As caixas de leite por aqui trazem, no verso, receitas específicas com os ingredientes típicos da região, como a mandioquinha. Pepino em conserva? Acho que nunca vi por aqui.

E então, a grande questão: até que ponto devo manter minha identidade étnica-alimentar? Devo ser um xiita culinário ou devo fazer como o adágio popular, que diz que estando em São Paulo, devo me alimentar como um paulista? Olhando a questão por esta ótica, fica mais fácil compreender o movimento dos gaúchos, que saem montando franquias (os CTGs) pelo Brasil inteiro, ou mesmo a disseminação do fast food americano. Somos todos, em maior ou menor grau, condicionados por nossa socialização primária e, sobretudo, temos a tendência de tentar mudar o mundo para torná-lo mais parecido com o nosso ideal.

Ou não?

(Estas foram algumas rápidas observações sobre a alimentação e a identidade "étnica". A seguir, voltamos com nossa programação normal)

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