sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Wandering thoughts

1. um texto acadêmico faz parte de um gênero literário distinto, com características próprias; alguns critérios devem ser respeitados para caracterizá-lo como tal;

2. este texto pode ter maior ou menor apego ao cânone existente, mas não pode negá-lo; sua aceitação e filiação ao meio acadêmico é dependente desta associação;

3. o estilo de textos acadêmicos variam de acordo com a disciplina com a qual está associado;

4. textos sociológicos, portanto, são diferentes de textos antropológicos, apesar das disciplinas serem relacionadas;

5. um grande dilema para o escritor acadêmico é ser relevante, interessante e criativo, ainda que respeitando as formas e o conjunto literário existente anteriormente;

6. ao menos nas ciências sociais, pesquisadores estabelecidos podem subverter parcialmente estas regras; sua escrita é menos formal e adaptada;

7. "neófitos" devem se ater às normas e etiqueta do texto acadêmico, caso contrário não receberam o reconhecimento dos pares;

8. os dois enunciados anteriores contrariam uma possível interpretação kuhniana de que as contribuições inovadoras são realizadas, em sua maioria, por neófitos;

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Segunda-feira é um dia...

...para acompanhar um rito de passagem (acadêmico).

De mestrando à mestre, em poucos minutos, em pompa e circunstância.

E cada um fazendo a sua parte.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

terça-feira, 30 de junho de 2009

Mudanças...

Muitas coisas aconteceram comigo nos últimos tempos. Em primeiro lugar, temos a mudança: da casa assombrada pela lembrança do assalto para um apartamento ajeitado em um bairro classe média de Campinas. Minha antiga rotina é coisa do passado, e ainda não tive tempo de estabelecer uma nova.

O que me causa maior espanto, num primeiro momento, é a descoberto de uma Campinas que é diferente daquilo tudo que conheci até agora. Se antes a cidade se resumia ao dilapidado e pichado centro e ao paradoxal provincianismo cosmopolita-estudantil (!) de Barão Geraldo, agora descobri uma nova faceta da cidade. O bairro onde moro agora, o Cambuí, é repleto de opções de lazer e gastronômicas e de pessoas bem-humoradas e atenciosas. Chega a ser impressionante. Estou encantado com a simpatia dos garçons, a atenção do barbeiro e o fiado que aplicamos na loja de equipamentos elétricos.

Em breve, depois de ter morado ali por um tempo, vou ser capaz de passar um relato menos deslumbrado. Por hora, fico contente com a bem-vinda sensação de segurança do condomínio, e com a alegria de ter saído um pouco do mundinho meio distorcido do condado - o distrito de Barão Geraldo, com seus alunos, professores e estranhas distâncias sociais.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Direto de PoA...

...e antes que eu esqueça, alguns "gauchismos":


Batida (bebida), não tem álcool. É vitamina de frutas.

Taça pode ser uma xícara.

Bauru é um lanche parrudo, com carne e ovo, e não aquela mixaria de queijo, presunto e tomate.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Momento "Zé-Graça"

Enquanto as novelas de Manoel Carlos normalmente se dedicam aos dilemas da classe média carioca, Glória Perez produz textos baseados em uma concepção ousada de geografia e cultura - é quase como uma National Geographic distorcida. A fórmula é conhecida: ciganos (Explode Coração), a Turquia e a clonagem (O Clone), imigração ilegal (América). Agora, a autora aponta para a Índia, com a novela que ganha o prêmio de referência histórica mais infame da televisão brasileira - Caminho das Índias. Nada como culturas exóticas sendo adaptadas para os padrões globais de dramaturgia, né?

Ok, são apenas novelas, e eu não quero fazer uma crítica áspera à produção cultural da televisão brasileira. Pelo contrário, quero fazer uma sugestão à autora... que tal procurar novos lugares e culturas exóticos para serem pasteurizados e avacalhados no horário das oito? Aí vão algumas sugestões para novas novelas:

(entra a narração off típica da Globo)


Vem aí... Ponte da Amizade, a nova novela das oito!

Juan Martinez (Thiago Lacerda) é um jovem paraguaio ambicioso, que herdou de seu tio (Tarcísio Meira) o comércio de cigarros falsificados em Ciudad del Este. Após uma noite de problemas com a Polícia Federal brasileira, ele conhece Pedro Almeida (Fábio Assunção), um brasileiro de Foz de Iguaçu, que está no Paraguai procurando por sua irmã desaparecida, Antonieta (Débora Secco). Ela foi enganada por promessas de vida fácil nos charcos paraguaios, e agora é refém de Pablo (Nuno Leal Maia), um peruano que vivia na Bolívia e muitas coisas trazia de lá. Juan e Pedro irão se aventurar no submundo paraguaio, procurando a jovem desaparecida, e provando o verdadeiro valor da amizade!

Participação especial de Antônio Fagundes e Stênio Garcia, como Pietro e Biño, dois caminhoneiros paraguaios que se metem em muitas ciladas!

De Glória Perez, Ponte da Amizade, a nova novela das oito!

(sobe a trilha sonora, tocando uma guarânia)

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Vem aí... Guantânamo, a nova novela das oito!

Hussef (Wagner Moura) é um jovem descendente de afegões, condenado injustamente pelo governo americano. Ele consegue escapar de seus algozes norte-americanos com a a ajuda de Concepción (Priscila do BBB, em sua estréia em novelas), uma pobre, mas honrada, trabalhadora cubana das plantações de cana de açúcar. Logo, o pobre americano-afegão descobre o valor da simplicidade e do amor, ao apaixonar-se por Concepción e conhecer seus pais, Carlos (José Mayer) e Maricota (Suzana Vieira) e seus irmãos, Pancho (qualquer ator adolescente da Malhação) e Maria Joaquinha (qualquer atriz mirim da Globo). Tudo parecia ir bem, até que um espião do exército americano, Thomas Suaréz (aquele cara que parece o Tom Hanks) chega à Guantânamo, para caçá-lo!

Participação especial de Carlos César Pereio, como Alejandro Casillas, o ditador cubano, e Cristiane Torloni como Louise Veronica, a corrupta embaixadora brasileira em Cuba.

De Glória Perez, Guantânamo, a nova novela das oito!

(sobe a trilha sonora, tocando uma salsa)


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Vem aí... Sete tons de branco, a nova novela das oito!

Stênio Garcia é Bin... digo, é Nunook, um esquimó Inuit. Último sobrevivente de um desastre ecológico no norte do Alasca, Nunook procura se adaptar à vida dos brancos em Anchorage. Para isso, ele conta com a ajuda de Veronica Fish (Vera Fischer) e Thom Bear (Tony Ramos), dois simpáticos e atrapalhados comerciantes de peixe e traficantes de óleo de baleia, que vivem em pé de guerra. Sua problemática filha adolescente, Moonshine (Marjorie Estiano) é o elo de ligação do simples Nunook com o mundo dos brancos. Ela irá descobrir o amor quando o sobrinho desaparecido de Nunook, o jovem Dunook (Cauã Reymond) reaparece misteriosamente. Mas esta paixão será atrapalhado por Gabriel, o rico estudante de intercâmbio brasileiro (aquele guri que fez o Cazuza), herdeiro da rica família Cavalcante (quaisquer atores que façam papel de ricaços na Globo...).

De Glória Perez, Sete Tons de Branco, a nova novela das oito!

(sobe a trilha sonora, tocando... ah, sei lá...)

Em breve, mudança!

Na sexta-feira (dia 19) vou deixar a casa ainda tomada pelas lembranças do assalto, para ir morar em um apartamento, em um bairro mais central da cidade. Em breve, comentários sobre a mudança...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Para que conste nos registros...

Depois do assalto, os moradores daqui da casa passaram a se empenhar, conjuntamente, na procura de um novo lar - preferencialmente um apartamento. As opções são muitas, e existem apês de todos os tipos: com piscina, salão de festas, academia, espaço gourmet, novos, velhos, grandes e alguns do tamanho de latas de sardinha...

De qualquer maneira, será que dá para acreditar que depois de uma visita a um desses condomínios, testemunhamos (minutos após o ocorrido) um jovem morador choroso relatar que havia sido assaltado, ali na frente do prédio?

Detesto concordar com o populacho e com o jornalismo marrom, mas... A coisa tá feia!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

"Tomorrow will be the most beautiful day in Raymond K. Hessel's life"

E agora? A violência urbana me atingiu, me pegou pelos cabelos, me chacoalhou, me jogou no chão e me deixou feito um cachorro tonto. O que fazer? O que pensar? De quem é a culpa?

1.

Na última terça, minha casa aqui em Campinas foi invadida por um grupo de indivíduos armados, que renderam a todos, nos trancaram no banheiro, reviraram nossos quartos e nos subtraíram dos objetos mais caros e de algumas coisas com valor sentimental. Em quinze minutos, levaram as coisas que demoramos meses (anos?) para acumular. Mais do que isso, deixaram um certo trauma de ser acossado dentro do próprio ambiente doméstico. Fiquei sob a mira de pistola na minha cozinha e no meu banheiro... é possível habitar estes cômodos sem a eterna recorrência mental da situação? O sentido de segurança provido pelos muros, portas, trancas, grades e paredes da casa é possível de ser restaurado?

2.

A primeira, natural e esperada reação (depois do susto, é claro) é a revolta. Depois, vem a busca pela motivação, pela racionalidade, pela lógica de tudo aquilo que aconteceu. Frequentemente, tudo isso se mistura e somos levados a acreditar em respostas fáceis e rápidas. O outro é uma ameaça, logo não é merecedor de ser chamado de "humano" - torna-se uma força da natureza, um desastre que se abate sobre os incautos, um problema a ser resolvido. Uma entidade a ser combatida.

Não digo que esqueci o que me fizeram: ainda dói, ainda incomoda. Não desejo que ninguém passe pela experiência que passei. Mas se a civilidade e a humanidade são qualidades que faltaram em meus agressores, não vejo motivo para purgá-la voluntariamente da minha psiquê. Mais do que isso: qualquer coisa que aconteça de ruim com meus agressores somente servirá para arregimentar novos pobres coitados para dentro do ciclo de violência deste pobre país de terceiro mundo.

3.

Para mim, cognitivamente falando, os assaltantes são apenas isso. Assaltantes. Me escapam as verdadeiras motivações, histórias de vida, problemas, alegrias e eventuais possíveis qualidades humanas. Inversamente, o que somos nós para os assaltantes, neste caso específico? Se para mim, eles encaixam no estereótipo do agressor, para eles nós somos a imagem da exclusão e da injustiça social. Eles jamais vão saber que tive que merecer dolorosamente o salário de bancário que usei para comprar o meu computador. Eles jamais vão saber que não ganho mesada de mamãe e papai. Fui simplificado (sim, injustamente) à condição de um estudante de classe média alta, que faz faculdade, que tem confortos domésticos, boas roupas, estabilidade. Uma vida de comercial de margarina que lhes foi negada a priori. Eu vivo uma vida, e tenho acesso aos bens cobiçados da nossa sociedade, que eles (sem trocadilhos) vivenciam e consomem apenas marginalmente. Por força, por roubo, por agressão. Por vias tortas.

4.

Para citar a sabedoria popular, "o buraco é mais embaixo". Sim, eu gostaria que os responsáveis fossem encontrados e punidos de acordo com os rigores da lei, esta lei que tacitamente aceitamos ao viver em uma sociedade ocidental democrática. Somos, sim, dotados de capacidade de auto-determinação, mas também somos forçados pelos rigores do ambiente onde nascemos e crescemos. Esperar que todas as pessoas que só vivenciaram ódio, carência, ignorância e violência consigam extrapolar esta origem e se tornem exemplos de conduta é ingenuidade. O mundo não é só flores. E muitas, muitas e muitas vezes os "cidadãos de bem" são tão doentes, vis e distorcidos quanto estes pobres coitados drogrados e analfabetos que servem de bucha de canhão para os barões da droga ou que não compreendem o mundo em que eu vivo.

A vizinhança onde moro é patrulhada por um serviço de vigilância privada. A própria noção deste serviço é uma afronta filosófica: na prática, privatiza-se a rua (o espaço público "por excelência"), e transfere-se voluntariamente e mediante pagamento, uma obrigação do Estado para grupos privados, cuja a idoneidade é altamente questionável. Na prática, do ponto de vista do "consumidor" do serviço, transfere-se o risco desigualmente: os que não podem pagar, devem arcar sozinhos com os problemas sociais do país? De que maneira, além da lógica especificamente mercantil, isto pode ser moralmente válido? E por parte da empresa de segurança? Quem lhes atribuiu o direito de proteger alguns, enquanto ignoram os problemas de outros?

5.

Em um mundo ideal, estas questões não seriam sequer necessárias. Mas o mundo onde vivemos é triste, "desfuncional", injusto e caótico. Lamento por ter sido ameaçado com uma arma de fogo, e lamento ter perdido muito do pouco que eu tinha. Não me voluntario para ser alvo da violência e nem para entregar as coisas que me custaram tempo e esforço para obter. Mas me recuso a acreditar que ódio e violência sejam respostas válidas para o problema. Não quero pena de morte e não quero redução da idade penal. Não quero voltar para os tempos antigos, do "olho por olho, dente por dente". Gandhi já nos alertou que, se formos por este caminho, ficaremos todos cegos (e, se me permitem o adendo, todos banguelas!).

E, vivendo neste mundo cão, não preciso nem ao menos me dar ao trabalho de procurar minha vingança ativamente. Sociólogos, estatísticos e assistentes sociais já deixaram muito claro que a vida das pessoas que estão envolvidas com o crime organizado é curta. Em breve, ou tomam tiro, ou morrem de alguma doença repugnante, ou caem na cadeia e morrem esfaqueados... a lista de possibilidades é imensa. E é triste: existências curtas, com um sentido vazio, imediato, bruto.

O que fizeram comigo não pode ser reparado, é verdade. Me sinto privilegiado por ter passado por isso e ainda assim estar vivo. Mas me recuso a prolongar a intolerância, o preconceito e, principalmente, o medo e a falta de esperança na raça humana. Por enquanto, faço o que posso fazer para me prevenir: ainda vou ser um refém de tudo isso, da paranóia, da desconfiança. No fim, se eu não conseguir, me mudo para o meio do mato, viro ermitão.

Mas, sinceramente, prefiro acreditar que ainda tudo isso tenha um fim. Prefiro pensar que meus agressores são tão vítimas quanto eu, e desejo que meus preconceitos não sejam potencializados pela violência que passei. Eu quero viver em um mundo bom, algum dia. E desejo isso para todos.

Ainda abalado, mas sempre otimista.

mrs