segunda-feira, 31 de março de 2008

Sem justificativas para a inatividade, mas...

Aos meus poucos (mas interessados) leitores:

Talvez eu esteja dentro do padrão de normalidade. Algo mais ou menos assim: "75% dos blogs mantém posts diários durante as primeiras duas semanas. Após a terceira semana, a frequência de atualizações reduz consideravelmente; apenas cerca 20.53% continuam com atualizações diárias. Outros 30% não recebem mais atualizações... etc, etc". ***

Por outro lado, também não quero criar mais uma formalidade. A idéia é escrever espontâneamente. Se isso não acontecer, prefiro não ficar alimentando a internet com reflexões burocráticas e consumindo o tempo das pessoas com a leitura de um texto desmotivado, sem cores. Um dia desses, ao comentar sobre as pessoas que ficam falando asneiras precipitadas na sala de aula, só para garantir a nota de participação, eu acabei falando algo assim: se não tem nada relevante para dizer, fique quieto. Talvez seja este o sentido.

Mas existe outra explicação. Talvez a última semana tenha sido mesmo cansativa e pouco produtiva. Só de relembrar os infortúnios que me ocorreram fico cansado e ligeiramente abatido. Basta mencionar que eu tive aulas canceladas, problemas com a abertura da conta para receber a bolsa e preocupações que exigiam mais da minha atenção do que o exibicionismo digital da minha escrita. Ao começar esta semana com ânimo renovado para minhas atividades acadêmicas, pretendo também renovar meu impulso narrativo e, assim, dar mais movimento para este blog.

Aos poucos e estimados leitores, eu recomendo paciência. Para mim mesmo, recomendo um pouco mais de disciplina.

Até breve!

*** Confie somente nas estatísticas que você mesmo inventou.

terça-feira, 18 de março de 2008

Faz dias que isso aqui não vê um texto novo, eu sei...

Ando um tanto ocupado. A carga de leitura no mestrado é um grande e os textos não são muito fáceis. Nunca tive na FURB uma aula de Economia que fosse aproveitável, e agora estou tendo que encarar de Schumpeter para baixo. É uma tarefa meio lenta e um tanto cansativa. Me esforço um pouco, mas Economia não é lá muito minha maior área de interesse.

Estive ocupado também escrevendo o tão prometido artigo científico, baseado no meu TCC e que deverá ser encaminhado para alguma revista de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia. Eis outra tarefa árdua: estou muito contente (sempre estive!) com o meu TCC, acho que é um bom trabalho. Mas o tempo que passou e as coisas que aprendi depois da apresentação do trabalho o tornarão levemente "desatualizado" ou um tanto "incompleto". Estou tentando incorporar novas idéias ao texto antigo e, para que o produto final não pareça um Frankenstein meio disforme, tenho que queimar alguns neurônios também com isso. E estou devendo essa para o Mattedi.

Por fim, também estive revisando os arquivos da Folha do CACS - o informativo que editávamos no tempo do Centro Acadêmico - buscando inspiração para escrever uma apresentação para a obra que o Sr. Tulio Vidor está preparando: uma "Antologia" de todas as edições da Folha do CACS. O texto ficou pronto, afinal, mas não vou colocar ele no blog. Prefiro deixar ele inédito até o momento do lançamento de nossa obra. Depois - quem sabe? - coloco ele aqui.

(algumas outras coisas andam rondando minha cabeça e mereceriam um espaço neste blog. A vaga para idosos no estacionamento do shopping, por exemplo. Qualquer hora, coloco uma ou outra idéia sobre isso também)

Amanhã volto para o Vale, para passar o feriado de Páscoa. Estou feliz com isso. Vou de carro e durante o dia. Depois de algumas viagens noturnas em ônibus, finalmente vou poder observar um pouco da paisagem paulista e paranaense. Talvez terei combustível para mais algumas linhas neste humilde diário digital.E, é claro, estou ansioso para rever alguns rostos conhecidos, botar o papo em dia e amenizar as saudades.

E, depois, voltar a me ocupar...

sábado, 15 de março de 2008

Google Earth

Há quem diga que a Google vai dominar a Internet. Mecanismo de busca, e-mail, rede social, editor de textos on-line, mapas, YouTube e em um futuro próximo, o concorrente definitivo para o iPhone. Muita gente fica impressionada com a rapidez do crescimento da empresa e com sua capacidade de inovação. Eu também. Esse post, no entanto, não é para discutir e problematizar o futuro da Google.

Sempre tive uma admiração pelo Google Earth. A começar pelo ineditismo da idéia, passando pelo assombro causado pela especulação sobre o tamanho do banco de dados e as conjecturas a respeito do acesso da empresa aos dados de satélites privados e governamentais. Extrapolando um pouco a reflexão, podemos até mesmo afirmar que isto é o resultado cultural de conceitos como "aldeia global" ou "mundo globalizado". Quando, na História da cartografia, foi possível enxergar nosso mundinho dessa maneira? Alguma vez tivemos uma cosmologia que retratasse a Terra deste modo?

E quando eu poderia mostrar para os amigos, a minha residência e meu local de estudos com imagens de satélite? Graças ao Google Earth, agora eu posso!

a) se você estiver interessado, em primeiro lugar você terá que ter o Google Earth instalado. Nada problemático, é só "jogar no Google";

b) depois, baixar os arquivos que estão aqui. Os quatro arquivos estão dentro da pasta virtual "Google Earth";

c) No Google Earth, abra os arquivos através do menu Arquivo/Abrir.

O arquivo chama "Casa", vai apontar para a minha residência atual, no calmo distrito de Barão Geraldo. Para ter uma idéia do caminho que faço quase diariamente, para ir estudar no Instituto de Geociências, em seguida abra o arquivo "Eu passo por aqui". Você vai ver o pequeno caminho que passa entre o lago da UNICAMP e que é, no final das contas, o momento em que estou entrando na Universidade. O arquivo "IGE" vai mostrar a localização aproximada da minha sala de estudo e do local onde tenho aulas. Pelo caminho, o marco central da UNICAMP, a Biblioteca Central, o Bandeijão (outro arquivo) e outros locais interessantes (?). O próprio Google Earth vai mostrar alguns links para fotos das redondezas.

Baixe os arquivos e imagine este sedentário caminhando este tantão, divirta-se e ajude a Google a modificar nossa cultura e a dominar o mundo!

quarta-feira, 12 de março de 2008

Ontem choveu...

Um pouco. Foi mais uma daquelas chuvas de Campinas, mas foi o suficiente para me molhar - quando eu estava indo para a UNICAMP e quando estava voltando para casa. Que ironia! É claro que isso não me impedirá de continuar reclamando do tempo de Campinas. Agora falta comprar um guarda-chuva.

...

Ontem recebi um e-mail. A remetente é aluna do curso de Ciências Sociais da UFPR, e me perguntou sobre o último ERECS. Pobre menina. Acho que ela não esperava uma resposta tão longa e tão irritada quanto aquela que elaborei. Me dei conta de que, além das conversas com alguns amigos, nunca declarei publicamente a minha opinião a respeito do evento, minhas impressões e depressões sobre a coisa toda. Então, num movimento praticamente espasmódico, redigi um longo e-mail e me livrei disso.

Não é um texto muito elaborado. Foi como se eu estivesse falando aquilo tudo diretamente para alguém. Está um pouco confuso, não foi revisado. E, afinal, é um texto que não quero que ocupe meu espaço aqui, neste blog. Então ele foi para o desfuncional blog do ERECS 2007 e pode ser acessado no link abaixo:

http://erecs2007.blogspot.com/

Chove, chuva!

domingo, 9 de março de 2008

Indicação de leitura!

Aos internautas (o termo não soa estranho? Me sinto o Pedro Bial falando no Big Brother!) curiosos, uma indicação: o blog acadêmico do meu colega Rafael Bennertz, onde ele está explorando suas motivações em relação à dissertação e onde está divulgando suas conclusões e resultados parciais.

OK, não é exatamente uma leitura leve e interessante para quem não estuda sociologia da ciência e tecnologia, mas a divulgação é indolor e inofensiva, então... aqueles que tiverem alguma curiosidade sobre o programa de álcool combustível no Brasil e, mais especificamente, sobre o motor à álcool utilizado nos automóveis no Brasil, acessem:

http://rafaelbennertz.wordpress.com/

Aufwiedersen!

Sobre o clima e sobre montanhas...

Sinto falta de algumas coisas, e sinto falta das pessoas. Mas, sinceramente, não esperava sentir tanta falta do clima do Vale do Itajaí. E eu sinto. O tempo por aqui é seco e quente. Algumas vezes, durante a noite, bate um vento agradável, mas poucas vezes eu vi chover por aqui. Quando achei que testemunharia um temporal, fui surpreendido com uma insuficiente chuva de dez minutos.

Nos primeiros dias aqui, o tempo seco me causou feridas no nariz. As feridas já curaram, mas ainda sinto falta da chuva; seja um chuvisco insistente, típico de um dia indolente nos lagos riocedrenses, seja uma tempestade tropical blumenauense. A chuva, para mim, é algo agradável, é um convite à reflexão, é o dolce far niente. O calor de Campinas é fadiga, é castigo. Acho que posso lamentar, enquanto não chega o inverno, não?

Ainda existe o estranhamento causado pela paisagem de Campinas: acostumado com as montanhas onipresentes do Vale - para onde quer que se olhe parece haver um monte, coberto pela mata atlântica - tenho que me contentar com um horizonte plano, ora urbanizado, ora dominado por vastos campos agrícolas. Morro Azul, Arapongas, Spitzkopf... como estarão?

Sinto falta de algumas coisas, e sinto falta das pessoas. E, definitivamente, sinto falta do clima e da paisagem da Mutterland. Condicionamento ou saudosismo? Quem sabe?

ATUALIZANDO:

Ontem, domingo, choveu. Uma trovoada de nada, uns dez minutos de chuva. Mas, ao menos choveu.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Sobre o almoço...

Hoje o almoço do Restaurante Universitário estava especialmente insípido: como observou o Rafael, a carne, além de estar sem sabor, estava com um aspecto e textura de carne estragada. E a melancia quente de sobremesa também não ajudou. Ah, e sempre eles servem o feijão antes do arroz - fica o feijão embaixo e o arroz por cima; deve ser uma interpretação literal do "feijão com arroz". Eu, que prefiro o feijão por cima do arroz, tenho que ir me acostumando.

Para aqueles que, eventualmente, quiserem acompanhar o menu do Restaurante Universitário:


http://www.prefeitura.unicamp.br:8080/cardapio/cardapio.php

Traga sua caneca!

quarta-feira, 5 de março de 2008

Jornada de trabalho?

Ontem foi meu primeiro dia de aula no mestrado. Não aconteceu nada muito extraordinário, na verdade. Um pouco de papo, as pessoas se apresentando e uma rápida olhada no programa de leituras, provas e seminários programados para a disciplina. Egresso de uma universidade periférica, fiquei com um certo orgulho de estar ali, junto com uma dezena de privilegiados que puderam estudar em conceituadas universidades públicas. Foi gratificante, mas o deslumbramento excessivo deve ser algo a ser evitado, não?

Amanhã, tenho duas aulas: manhã e tarde na UNICAMP. Estou calculando que pela quantidade de textos que eu devo ler semanalmente, vou ter bastante trabalho pela frente. É claro que sete anos da jornada de trabalho de bancário me prepararam para uma rotina de trabalho extenuante, mas minha atual condição de "férias prolongadas" vai ter que acabar: sem mais excessos de internet, TV a cabo e seriados pirateados (House M.D., principalmente), videogame, leituras despreocupadas, rede para deitar e outros tantos confortos que estão me tornando um preguiçoso!

Como ainda não recebi a bolsa, não me sinto moralmente obrigado a ser produtivo, academicamente falando. Mas tenho ainda assuntos a resolver, um artigo científico sobre o meu TCC para concluir e, em um futuro próximo, muitos textos para ler. Atividades que não combinam com a agenda relaxada das minhas assim chamadas "férias prolongadas". Nunca fui um bancário muito ordenado e respeitador de prazos, mas do emprego que deixei para trás acho que mantive uma certa preocupação com a sistematização. Logo, estou usando este espaço para anunciar que pretendo me organizar de modo que eu estabeleça uma jornada de trabalho de, digamos, ao menos quatro horas por dia na Universidade, cuidando dos meus assuntos acadêmicos. Acho que é o suficiente para não me distrair com trivialidades, ser produtivo e para não me sentir um preguiçoso com crise de consciência.








Mas, pensando bem, devo começar somente na segunda. Ainda tenho alguns e-mails para mandar, episódios de House para assistir, algumas horas para dormir...

segunda-feira, 3 de março de 2008

Sobre o futebol (ou: sobre a tarefa de escrever diariamente)

1.

Três textos e um bloqueio criativo... De fato, não está escrito em lugar algum que se, eventualmente, isto aqui não for atualizado não posso escrever nunca mais, ou que o bicho papão vem puxar meu pé durante o sono. Não. Ainda bem. E, afinal, não são os limites auto-impostos que são os mais difíceis de serem respeitados?

Pensando bem, não se trata exatamente de um bloqueio criativo. Eu poderia escrever páginas e mais páginas sobre meu passeio dominical em São Paulo e sobre minha experiência sociológico-futebolística. Trata-se, eu creio, de uma crise de falta de confiança na qualidade dos textos. Nem sempre é fácil escrever alguma coisa relevante, inteligente e inteligível; algo que seja importante para mim e para os outros. Noventa e nove por cento de baboseira, parlapatice e bravata para justificar um por cento de idéias relevantes ou frases bem construídas? Estou achando (particulamente hoje) que estou nessa.

2.

O passeio estava sendo engendrado há algum tempo. Não posso afirmar qual era a opinião dos outros envolvidos, mas para mim aquela era uma oportunidade ímpar. Assistir a um jogo de futebol, na arquibancada do estádio, sem quaisquer dos filtros possivelmente empregados pela televisão (meu único acesso prévio a este tipo de evento) era muito tentador. Do alto da minha petulância acadêmica, era como embarcar numa missão antropológica em um região distante. Era como conhecer um grupo selvagem em seu estado natural, em seu local de origem. Era uma viagem para uma terra desconhecida.

Como sempre acontece nas expedições, houveram preparativos. Jundiaí, colega de moradia e palmeirense em um estado de semi-fanatismo (ao menos no nível discursivo) serviria como guia. Ele seria a ligação entre dois mundos diferentes: o meu mundo, do futebol como uma atividade exótica e o mundo dos torcedores dedicados, com trajes uniformizados e gritos de guerra. Teoricamente, seu conhecimento do terreno também o qualificava como guia, mas os sucessivos infortúnios no trânsito de São Paulo demonstraram que, ao menos no que diz respeito ao trânsito, possuíamos praticamente a mesma perícia.

Ao contrário dos exploradores comuns, que normalmente arranjam-se avidamente para catalogar, fotografar e entrevistar, realizei uma preparação inversa. Um certo preconceito apitava como um alarme, dizendo que meu precioso celular com câmera digital deveria ficar em casa ou eu estaria fatalmente destinado a ser subtraído de minha posse. Mais tarde, me arrependi da decisão, mas prefiro acreditar que a ausência de artifícios do gênero apuraram minhas percepções. Houve também a preocupação para que minha roupa não tivesse nenhuma das cores "tribais" - verde, representando o Palmeiras e preto correspondendo ao Corinthians - de modo que uma identificação visual incorreta me tornasse vítima de alguma violência física por parte de algum torcedor mais exaltado. No decorrer da viagem ouvi, atento, aos episódios históricos e peculiaridades relatados por Ivo e Jundiaí, para que eu tivesse alguma familiaridade com a cultura específica do futebol.

3.

O tom episódico não caiu bem, eu creio. Muito empolado, falsamente pessoal. Parece uma narração em off de um documentário ruim. Mas como admitir meus preconceitos sem recorrer a este recurso? Como reconhecer que havia medo de ser roubado e espancado naquele espetáculo tipicamente brasileiro, tão estranho para mim? Como admitir que o filtro da cobertura esportiva da Rede Globo me privou (temporariamente, suponho) do bom senso e da verdadeira dimensão das coisas? Como separar minha curiosidade sociológica legítima da ambição intelectual e do sub-reptício preconceito sulista?

Ao optar por um relato assim rebuscado estou sendo duplamente desonesto: não admito que nem sempre posso escrever bem e não admito que tenho preconceitos que talvez sejam acobertados pela minha estimada e tão evocada curiosidade sociológica. E a confissão, por si, resolverá as distorções?

4.

Da maior parte do ambiente urbano de São Paulo pude apreender somente aquilo que vi do lado de dentro do carro: massiva urbanização, trânsito pesado, o odor pestilento do Rio Pinheiros. Acho que a coisa mais inteligente que me ocorreu, durante o trajeto, foi a perplexidade a respeito do volume de trabalho envolvido no planejamento e manutenção de um ambiente urbano tão grande e complexo; e aquela rede urbana é tão complexa quanto irreversível. Como poderia aquele conjunto inteiro funcionar?

A mesma perspectiva de uma rede social, ainda que de modo mais claro, me ocorreu conforme nos aproximávamos do estádio e do momento da partida. Mesmo dentro da cidade, pude perceber uma sociabilidade cujo centro espacial era o estádio, e cujo o momento de maior densidade era, de fato, os noventa minutos da partida de futebol. Trata-se de uma rede que vai de um estado difuso, para uma intensidade quase institucional e que depois vai desaparecendo lentamente, afrouxando seus laços.

Antes da partida existe, digamos, uma infra-estrutura, uma proto-rede. Os times de futebol não foram fundados naquele domingo. O estádio não foi construído naquela semana. As ruas, os comerciantes e os cambistas estavam lá antes do jogo e, com alguma sorte, estarão lá após a partida de futebol. É por razões específicas e vontades em comum que estes elementos reúnem-se no que estou chamando de "partida de futebol", numa disposição geográfica concêntrica ao redor do estádio. Alguns dos envolvidos beneficiam-se financeiramente desta rede social; os comerciantes das dezenas de barracas de alimentação das imediações, por exemplo. Outros integram aquele emaranhado por motivos psicológicos. A emoção da partida, o antagonismo entre as equipes e o uníssono dos gritos de torcida - que pude testemunhar da arquibancada superior, em posição quase paralela ao centro do gramado, de "dentro" da torcida palmeirense - atingem níveis de catarse semelhantes a um ritual religioso, suprindo talvez alguma necessidade psíquica dos envolvidos.

Durante a partida, no interior do estádio, era como se a vida exterior não importasse mais para as pessoas. O envolvimento com aquela rede, contingente e temporária, era elevado. As regras, normas e preceitos morais daquele ambiente pareciam valer muito mais do que a vida social do lado de fora. Torcedores de um lado, jogadores no centro do campo, o árbitro, os gandulas, os policias. Todos estavam ali, de um modo ou de outro, com papéis definidos e a atuação de cada um deles determinava o "formato" daquela rede. Não importa o quanto os envolvidos fossem diferentes e não-relacionados na vida cotidiana. Naquele momento, tinham identidades e papéis específicos. Naquele momento eles construíam a instituição do domingo de futebol.

Assim que terminou a partida, os policiais conduzindo os torcedores rivais através de vias urbanas distintas e distantes, evitando assim os confrontos físicos violentos, delimitavam o fim daquela rede e a presença de outra - o Estado. As identidades de corinthiano e palmeirense iam sendo lentamente decrescidas, dando lugar ao motorista, ao pai de família, ao trabalhador. Os elementos daquela rede específica, a rede do futebol entravam em suspensão. A rede voltava, lentamente, ao seu estado inicial.

Mas somente até o próximo domingo de clássico.

5.

Bloqueio criativo ou não, relato duvidoso ou não, o texto ficou longo. Espero que ele, ao menos, tenha cumprido seu objetivo inicial - informar sobre meu domingo no estádio do Morumbi, onde testemunhei a vitória do Palmeiras por um a zero, com um gol de Valdívia no segundo tempo. E, relendo o texto todo, neste momento, espero que o final jornalístico do último parágrafo não tenha estragado tudo.

Não é uma boa foto...

mas, há quem diga que imagens valem mais do que palavras; eu lhes apresento o RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO!



Não é bonito, mas é limpinho...