domingo, 29 de março de 2009

After years of waiting... (3)

Demorou algum tempo para processar a experiência de ter assistido ao show do Radiohead. Os efeitos das expectativas, dos anos de espera e o sentimento de que realmente o Radiohead é a "última banda que vale a pena" produziriam um relato apaixonado, mas também totalmente imparcial. Hoje (uma semana depois) já me sinto um pouco mais apto para escrever a respeito.

Havia um tempo em que eu não suportava a banda de Thom Yorke & Cia. Por desconhecimento, achava que tudo que eles produziam era lamentação vã, chorosa e adolescente. Creep era um tormento e Fake Plastic Trees era uma tortura. Era como se eles fossem uns proto-emos, falsamente atormentados e imensamente pretensiosos. E essa impressão persistiu durante muito tempo, até o dia em que esbarrei em um CD-R que além das supracitadas canções, trazia duas pérolas renegadas: Karma Police e No Surprises - ambas provenientes do fantástico lote de canções do disco OK Computer.

No Surprises, em especial, transmitia um sentimento de inabilidade social e deslocamento que soava genuíno e curiosamente singelo. Saíam as guitarras e entravam glokenspiels, saía a gritaria e entrava um desespero um tanto conformista. E era lindo de doer. Para mim, indeciso entre ser bancário ou não, entre me adaptar ou não, entra a adolescência e a vida adulta, aquilo era o que eu precisava ouvir. Thom Yorke foi, de certo modo, o mais próximo que tive de um analista.

No entanto, o OK Computer era mais do que aquilo. Até hoje, não há uma música dele que eu não considere primorosa em diversos aspectos, na forma e no conteúdo. Se as letras falavam da alienação e mazelas do fin de siècle, a produção e a sonoridade já apontavam para o século 21. Basta ouvir Airbag, no fone de ouvido e em alto e bom som, para entender do que eu falo. Era rock, sem ser roqueiro no sentido estrito. As guitarras ainda pegavam pesado (ouça a "épica" Paranoid Android), mas o eletronismo e a experimentação eram as linhas condutoras da obra. Sim, obra. Como em obra de arte.

A comparação com o rock progressivo veio logo, e tão rapidamente quanto surgiu foi refutada pela banda. De fato, art rock parece ser um termo mais apropriado - não para uma obra específica da banda, mas pelo conjunto de sua produção. Curiosamente, a banda ganhava as manchetes e os louros da fama, mas ficava cada vez mais atormentada por isso: o documentário Meeting People is Easy, sobre a turnê do disco OK Computer, é o retrato do lado negro da fama de rockstar. Fala sobre a inexistência de privacidade, a incapacidade de corresponder à expectativas, sobre a histeria e, sobretudo, sobre o estado deplorável da banda na época.

Algum tempo depois, a banda pariu (no sentido mais doloroso do termo) o esquisitíssimo Kid A. Sem guitarras, sem refrões, minimalista, eletrônico e quase asséptico. Era como um suicídio comercial e o adeus ao mundo do rock. De fato, vendeu como água, mas era estranho, incômodo, bizarro. Nunca vou esquecer do dia em que, hipnotizado pelo disco, tentei convencer um amigo da beleza daquilo, do soco no estômago que era Everything in its Right Place. Como diria Yorke: "I'd tell all my friends but they never believe me/They'd think that I've finally lost it completely".

Para mim não importava. O Radiohead apontou uma nova direção para mim. E eu cheguei a acreditar que o rock estava morto e enterrado. O futuro pertencia ao Radiohead, e a partir dali Sigur Rós e similares passaram a habitar meu playlist. Felizmente, tanto eu quanto o meu amigo, estávamos errados. O Kid A era absurdamente inovador e, não!, o rock como conhecemos não era ainda algo dispensável. Por muito tempo, fiquei imaginando como seria testemunhar o cruzamento do show de rock com o experimentalismo do Radiohead, para juntar o melhor de dois mundos.

E essa foi a minha digressão praticamente instantânea, ao perceber que eu estava prester a observar um fenômeno tão raro quanto um disco voador pousando, ou um Deus baixando na Terra. Ali estava o Radiohead. A poucos metros, em carne e osso. Ao vivo, sem a barreira e a produção dos vídeos que eu via pela internet. Assim, quando 15 Step começou a ser executada pelos músicos percebi que eu testemunharia algo único - o show da minha banda favorita e a superação de uma idolatria baseada em meios de comunicação. Eu consumiria o Radiohead sem intermediários.

O preço do ingresso valeu cada centavo. Show de rock atípico, havia momentos em que um silêncio de 35 mil pessoas causava um espanto. Houve, é claro, o tradicional "singalong", mas foi espantoso ver como aqueles ingleses desengonçados construíam ali, diante de meus olhos incrédulos, paisagens musicais impecáveis. Arte-rock, sem dúvida. E pensar que eu cheguei a pensar que os shows de rock não valiam mais porra nenhuma...

O Los Hermanos da abertura apequenou-se, é claro. E até que gosto deles. Mesmo o Kraftwerk - praticamente os criadores da música eletrônica pop - com sua excentricidade robótica, serviu de coadjuvante de luxo. Detesto a tietagem histérica, mas, para mim, a noite era do Radiohead, e eu observei meio catatônico cada segundo da catarse coletiva. Saí de lá com um sorriso que deve ter durado horas e com lembranças muito, muito boas - porque confirmei minha suspeita de que o rock ainda pode ser algo relevante.

(e pensar que eu não gostava da banda)

http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL1054962-7085,00.html
http://www.omelete.com.br/musi/100018773/Radiohead_no_Just_a_Fest.aspx
http://musica.uol.com.br/ultnot/2009/03/23/ult89u10438.jhtm
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/03/23/e230325758.asp

sexta-feira, 20 de março de 2009

After years of waiting... (2)

Domingo. Radiohead.





"i'm aaaaaliiiiveeeeeeeeeeee"

sexta-feira, 6 de março de 2009

irritado (sem motivo aparente)

Acho que tenho um pragmatismo de classe operária. E acho que isso nunca vai me abandonar. Ao observar as pessoas felizes-e-brilhantes da Universidade, fico com uma certa impressão de que sou uma anomalia. A maior parte vive dramas que nem de longe me comovem ou sensibilizam. São problemas que me parecem microscópicos, banais e platônicos. Sim, problemas que habitam um mundo de conjecturas, planos e desdobramentos que tem pouca correlação com as contingências da vida real.

Quase sempre fui um white collar, é verdade. Uns tantos anos no "dinâmico" ramo da informática e mais uns oito trabalhando em um banco. Mas também tive meus momentos chão-de-fábrica. Já soldei, cortei, pintei, montei cercas & portões. Também cortei tecido, separei botões, varri chão de malharia. Confesso: nunca fiz isso para viver - eu quebrava um galho aqui e ali. No entanto, minha família (ou seja, meu blueprint para o mundo) sempre foi - salvo uma curta estadia na classe média - uma família de trabalhadores pouco especializados, mas pragmáticos. Tive uma infância relativamente boa em termos materiais, mas também já tive que comer pão seco e testemunhar minha mãe acordar diariamente às quatro, para "pegar" no primeiro turno.

Sou alfabetizado, formado e deformado pela escola pública. Tive que pagar minha faculdade vendendo uma boa parte dos meus melhores anos. Nunca tive padrinho, mecenas, patrono. Gosto do Bukowski, e me aborreço facilmente com quase tudo que pareça um pouco mais afetado. E assim vou medindo também as pessoas. É um pouco duro, é verdade, e pode ser injusto com alguns. Mas convenhamos: a inteligentzia se esconde em alguma coisa que parece uma torre de marfim, mas que quase sempre parece um castelo de areia. É fácil ser intelectual de buteco, com papai pagando as contas e mamãe lavando as roupas. Os dilemas de uma vida mais mundana são mais contundentes que a filosofia pela filosofia.

Isso não quer dizer que as pessoas não tenham seus méritos, qualidades e peculiaridades. Não significa que tenho um intenso ódio contra a máquina. Sou pragmático, e um pouco insensível com certas sensibilidades. Só isso. Tem dias em que acho que enxergo o mundo através de lentes cinzas, opacas.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Nomes para uma banda... (parte II)

Grounded Exercise
Ciclo Otto
Britney's Wig
Eu Não Suporto Renato Russo
To Eat Their Bacon
Budistas Facistas
Sous Jeune et Tais Toi
Maiô de 68

quarta-feira, 4 de março de 2009

Se algum dia eu tiver uma banda...

...gostaria que ela se chamasse:

Dança de São Vito (ou, em inglês, St. Vitus Dance)
Monsters Away
Filhas de Karl Marx (é só um nome, não precisa ter conotoção política)
South of Heaven
Daffy Duck's Shotgun (possível violação de copyright)
Bukowski Syndrome
Insane in the Mainframe
Symbionese Liberation Army
Luz Vermelha
(...)