domingo, 14 de dezembro de 2008

Uma viagem pelo túnel do tempo? Apenas R$ 15,00, por hora.

Chega o final do ano. Alguns entram em um frenesi consumista. Outros, investem na nostalgia e no clima de auto-reflexão. Como não tenho muito dinheiro sobrando, resta-me a segunda opção.

Sim, eu tive um ano cheio. Tive meu momento Clube da Luta: larguei alegremente um emprego seguro, porém monótono e me lancei rumo ao desconhecido. Conheci lugares, conheci pessoas: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Harry Collins, Michel Callon. Nunca viajei tanto, nunca dediquei tanto tempo ao estudo. Nunca senti tanta saudades de casa e das pessoas que vivem lá em Santa Catarina. Presenciei, via internet, a calamidade. Senti na pele as diferenças culturais e a diversidade contida nas dimensões continentais de nosso país. Descobri as dificuldades e as alegrias de ter sido formado, com dificuldades, mas por mérito próprio, em uma Universidade do interior.

Já estava organizando tudo isso, mentalmente, em um balanço do melhor e do pior que me aconteceu no decorrer do ano. Surpresas? Eu poderia jurar que não haveriam muitas outras. Ainda que eu anseie verdadeiramente a chegada do ano no Vale do Itajaí, não julgava que alguma coisa pudesse ainda me libertar da nostalgia e da introspecção reflexiva e pudesse me jogar mais uma vez no meu estado de curiosidade típico de quem é, afinal, curioso.

Na última quinta-feira, meio que me convidando e sem esperar por uma resposta, acompanhei meu colega Rafael ao Banco de Dados do grupo Folha (não é preciso explicar o que é a Folha de São Paulo, não é?). Ele foi por obrigações acadêmicas - era preciso realizar uma pesquisa sobre o histórico de seu objeto de dissertação, o motor a álcool -, mas eu fui realmente movido pela bisbilhotice.

Deixar Barão Geraldo e chegar em São Paulo, de ônibus e metrô, já é uma progressiva mudança de clima. O calmo bairro universitário de Campinas ficava para trás, e cada vez mais os skycrapers paulistanos, as pichações e a fauna urbana (de mendigos, ambulantes, anônimos que se acotovelam no metrô) se agigantavam. O próprio prédio do jornal, apesar de ordinário, trazia imponência lúgubre, meio decadente, de cidade grande; as prensas paradas, mas expostas através do vidro na recepção indicavam que estávamos no lugar certo.

O arquivo, em si, não tinha qualquer indício da solenidade que se espera das bibliotecas, museus ou outros lugares dedicados às velharias. Parecia um escritório normal, e a normalidade estava impregnada até mesmo nos rituais diários das pessoas. Atender telefone, ler e-mail, MSN, ler jornal, matar tempo distante dos olhos de supervisores. Fomos alocados numa mesa, em um canto, e tratados pelos funcionários com a solenidade pouco sincera de quem está recebendo por um serviço: sim, eles cobram pelas pesquisas. Quinze reais para cada hora de consulta, mais o valor das cópias. Um pouco decepcionante, é verdade, mas justificável. Afinal, a estrutura técnica e de mão-de-obra para a manutenção do arquivo (que percebemos ser extremamente abrangente) deve consumir uma boa quantidade de recursos.

De qualquer maneira, a pesquisa correu bem. Imagino que tenha sido produtiva para o Rafael. De minha parte, a curiosidade correu de rédeas soltas. Os recortes e fotos das décadas de 1970 e 1980 transpiravam ácaros, mas também o espírito de seu tempo. Como eram os anúncios? Quais os tipos de notícias que eram destacadas? Quem eram as personalidades? Como escreviam e como pensavam as pessoas, naqueles tempos passados? Não há maneira de responder com precisão, mas todos aqueles registros escritos e visuais são, de algum modo, um tempo congelado, uma representação do passado, legada aos povos de hoje. Uma imagem do passado, conservada pelos interesses da Folha e dos curiosos visitantes-consumidores; nostalgia e consumo não estão assim tão distantes.

A experiência me relembrou dos pendores de historiador que sempre tive, dos domingos de fotos e recordações de minha avó paterna. Mas algo faltava. Do mesmo modo que um turista procura associar-se de alguma maneira com o local que visita, num movimento de superposição do meio ambiente e de seu ego, eu precisava de alguma coisa que me relembrasse da experiência; eu precisava de um troféu, de um souvenir de algum tipo. A minha solução para esta angústia pode não ser muito original, mas cumpriu sua função. Consegui (para meu deleite) uma cópia da capa da Folha de São Paulo, do mesmo dia em que eu vinha ao mundo, na distante e pacata Timbó. E descobri, maravilhado, que enquanto eu chorava pela primeira vez, milhares de pessoas liam a respeito dos desdobramentos do atentado ao Riocentro, se informavam sobre a morte do ativista irlandês Bobby Sands, e acompanhavam as especulações sobre a briga entre Marília Gabriela e Clodovil, nos bastidores da Rede Globo. E tudo isso por apenas dezesseis reais! Impressionante!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

"After years of waiting..."

Em poucas palavras:

RADIOHEAD.

no Brasil.

e

eu

vou!




quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Enchente, Novembro 2008



Avenida Nereu Ramos - Timbó

(maiores informações sobre a enchente http://allesblau.net/)