segunda-feira, 26 de maio de 2008

Coisas que não vemos todos os dias...

Acabo de chegar hoje em Campinas. Não fico surpreso com o fato de que em toda a viagem de ônibus que faço alguma coisa estranha ou diferente me chame a atenção. Desta vez, havia um homem - não um jovem, mas nada velho - que passou a noite inteira com a luz que fica acima da poltrona acesa. Medo do escuro? Não! Até onde pude perceber, ele estava corrigido provas de Física! Se dormiu, foi por poucos minutos; assim que o dia clareou botou-se a continuar com sua atividade, até o exato momento em que chegamos na rodoviária de São Paulo.

Amanhã pela manhã, tomo um ônibus para o Rio de Janeiro. Que bizarrice pode acontecer?

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Memórias de BH (ou: o dia em que fiz piada com a bibliografia...)

Minha semana em Belo Horizonte gerou dois tipos de reminiscências: em primeiro lugar, a experiência de conhecer um lugar novo e uma cultura que difere da minha em pequenos (mas significantes) detalhes. Andar nas ruas em BH foi uma atividade de proximidade e distanciamento. Os sinais e a publicidade eram em português; os carros andavam na mesma direção em que se movem em Timbó ou Campinas. O dinheiro era o mesmo, os programas de televisão também. Por outro lado, alguns pequenos detalhes minuciosos denunciavam a minha presença em uma terra desconhecida. O gari varrendo a rua com uma surpreendente palha de coqueiro, o onipresente pão de queijo, a identidade cultural mineira reforçada verbalmente e de forma escrita e as pequenas variações linguísticas me relembravam constantemente da atividade turística, em sua essência. Me senti plenamente um turista.

A outra reminiscência, porém, é mais forte. A oportunidade ainda não banalizada de encontrar com a bibliografia (neste caso, com alguns dos autores que são a ponta da área em que estudo), ouvir algumas idéias ou teorias direto da fonte, sem filtros e distorções, tem um apelo fortíssimo. Independentemente de onde estamos inseridos na sociedade, temos alguns ícones, alguns exemplos de comportamento. Às vezes, desconstruímos estes ícones através de oposição, desencanto; outras vezes, através do conhecimento e compreensão. A proximidade com aquilo que é "mítico" e o enfraquecimento da assimetria que nos separa do que era "intocável", resulta em uma desconstrução positiva. E foi por isso que eu passei em Belo Horizonte, ao conhecer Mr. Harry Collins.

Durante meu treinamento na sociologia da ciência e tecnologia, Collins era sempre uma referência presente. Ele ajudou a construir este campo da sociologia e pode, sem dúvida, ser considerado como um de seus principais expoentes. Mas, após uma semana como expectador privilegiado de suas palestras e discussões, construiu-se em mim uma noção de desencantamento positivo. O homem não era mais exatamente um ícone, ou uma figura mítica idealizada acessada através de livros ou discursos alheios. Ainda demandava um certo respeito, é verdade, mas ele era acessível e compreensível.

Foi com este espírito que eu e meu colega Rafael encaramos o mito Collins após sua última palestra, para uma conversa de proximidade nunca antes imaginada. Sim, começamos o diálogo com alguma lisonja e circunstância, mas esta dissipou-se rapidamente. A conversa foi técnica, mas não distante. E até mesmo o deboche, que o prof. Gilberto já havia identificado em nós nos tempos de graduação, se fez presente. Eis uma reprodução aproximada do diálogo:

Collins: "Muito bem... foi um prazer conversar com vocês. E vocês podem me escrever por e-mail, com perguntas... vamos manter contato."

Eu: "Claro, claro... você tem um cartão, Mr.... como é mesmo o seu nome?"

Collins: "Hahaha... Essa foi boa... ah, eu não tenho cartão. Entre no Google e digite meu nome..."

E assim, em poucos dias, passei de um adorador um tanto submisso para um neófito fanfarrão! É óbvio que minha posição de novato me permite uma margem de manobra e o anonimato suficientes para passar incólume por esta deliciosa ousadia. Mas a conclusão é de que realmente operou-se naquele instante uma imprevistas iconoclastia, em um sentido positivo. Por estar mais próximo do núcleo duro da área e especialmente por não temê-lo, tenho a impressão que estou no caminho certo e que os esforços empreendidos em minha jornada acadêmica estão me levando para algum lugar...

Posfácio:

Na sexta, após a viagem de volta de BH, um feliz acidente histórico, conjugado com o destemor típico dos novatos, me apresentou a oportunidade de conhecer outro grande nome da área da sociologia da ciência e tecnologia, mounsier Michel Callon. Durante um seminário aqui no DPCT, descobrimos que uma pesquisadora irá realizar, por ocasião de um evento internacional, uma entrevista com Callon. De fato, ela seria acompanhada por outra pesquisadora que, para nossa sorte, não poderá participar. Ao final da palestra, quando o Rafael fez uma pergunta ligeiramente elaborada sobre o assunto em questão (Callon e seus trabalhos), a palestrante enxergou uma possibilidade de substituir sua colega ausente. Bastou então a audácia de nos voluntariarmos para a tarefa, que consistirá da entrevista e uma posterior publicação do resultado em alguma revista da área.

Agora falta dar o salto: deixar de ser turista acadêmico está se tornando uma realidade estranhamente próxima...

O que é mais fácil?

Pedir para que os motoristas não estacionem ou mobilizar alguns recursos modernos como engenheiros, empreiteiros, operários e máquinas e diminuir a possibilidade da inundação?



(lembrança de Belo Horizonte...)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Daqui de MG...

Olá!

Estou escrevendo daqui de Belo Horizonte. Tudo certo por aqui. Os mineiros tem um hábito estranho: toda vez que são perguntados sobre um endereço, localização ou informações do gênero, saem com uma resposta que invariavelmente inclui a frase "é pertim". A verdade é que o local SEMPRE fica a mais de quatro quadras de distância. Estranho. De todo modo, são sempre muito solícitos e gentis.

O pão de queijo realmente é "bão". O tanto que um pão de queijo pode ser "bão". Em termos de regionalismo e culinária fico, sem dúvida, com os assados argentinos, mas isso já é outro assunto.

O campus da UFMG é muito legal. Estamos participando do evento em um auditório da reitoria, com aquelas traduções simultâneas (desnecessárias) que se vê apenas em eventos grandes. Os ingleses vieram cheios de disposição, mas também estão fazendo a política e vendendo o seu próprio peixe. Está sendo legal, mas eu sempre tenho que manter as minhas ressalvas, não?

Ah, eu poderia me queixar da viagem de ônibus, que foi uma verdadeira lástima. O veículo chacoalhou ferozmente durante a maior parte do trajeto. Isso sem contar com as tias loucas e as crianças chorosas. Mas, acho que prefiro não ficar me queixando por qualquer besteira. O que importa é recomendar um Dramin (é com M ou N?) para quem passar pelo trajeto, de ônibus. E o albergue? Pagando R$ 16,00 a diária, deixo a descrição de lado e deixo a imagem por conta do leitor. Não é tão ruim quanto parece, mas também não é lá um cinco estrelas. Talvez eu coloque algumas fotos aqui...

Como escrevo de uma Lan House, vou me despedindo.

Até breve!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Strange news from another star (?)

Olá!

Sim, ainda estou por aqui. Um resfriado (ou seria gripe?) me deixou em estado de disfuncionalidade nos últimos dias, mas agora que já descartei a dengue e o ebola me sinto, aos poucos, retornando aos meus patamares produtivos normais.

Isto, porém, não significa que teremos atualizações em breve. Pelo contrário. No sábado estou indo para Belo Horizonte, capital mineira, participar de um evento de sociologia da ciência e tecnologia e devo ficar por lá durante uma semana. Se puder, mando notícias de lá. Caso contrário, isto aqui ficará meio inerte por mais algum tempo.

Até mais!

(para os curiosos, o sítio do evento: http://www.ufmg.br/sociologiadoconhecimento/)